domingo, 18 de maio de 2008



Todas as cidades, por mais urbanizadas que sejam, têm um momento fugaz no ano, capaz de despertar em nós memórias colectivas ancestrais, de quando a vida do Homens, ainda era regida pelo ciclo das colheitas e das estações.

O primeiro nevão do ano em Nova Iorque, a primeira grande chuvada de final de Verão em Veneza capaz de fazer debandar todos os turistas das ruas e das esplanadas, a primeira queda das folhas das árvores em Paris, o cheiro asfixiante dos jasmins em Marraquexe.

O momento fugaz de Lisboa, que marca a fronteira entre o Inverno e a Primavera, que rapidamente se transforma em Verão (ou pelo menos assim era), é o florescer dos jacarandás, quando numa manhã, quase sem aviso, faz acordar a cidade tingida de lilás.

Tudo começa com uma tímida ameaça, primeiro junto ao rio, depois vai subindo a colina, acabando na parte alta da cidade, num verdadeiro orgasmo lilás sobre os passeios.

E é aí, entre os carros, os semáforos, os edifícios de escritórios misturados com o que resta da habitação aburguesada estado novo, que eu mais gosto de os ver, porque é aí, que mais fora do contexto parecem estar e onde mais abruptamente parecem florescer.






Como banda sonora, sugiro várias interpretações da “Pour ne pas vivre seul”, da Dalida e outras tantas reinterpretações. A minha preferida é a da Firmine Richard no filme 8 femmes do Ozon ;)))








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