Wanna be a Barbie

Um amigo meu louco por blogs, e que faz diariamente a revisão bloguistica gay, mandou-me um e-mail com um link, a recomendação veemente para ouvir um podcast (na página do tal link) e a pergunta: Tu também és uma Barbie não és?

Antes de abrir o link e ouvir o podcast respondi: Claro que sim, o mais possível, já sabes que sou!

Depois de ouvir o podcast, que igulmente sugiro veemente que oiçam, tornei a responder-lhe:
Sim, sou uma Barbie do bem!

Link e podcast aqui.

O que falamos quando falamos de Barbies?

Bem, na gíria gay, quando falamos de Barbies, também aqui na Europa, falamos de gays, que falando curto e grosso, têm a obsessão do corpo e dos músculos. Há também quem lhes chame marymuscle e provavelmente um outro monte de coisas das quais não me lembro agora.

Estando definido o estereótipo, porque é de um estereótipo que se trata, importa reflectir, porque é que para alguns gays, os músculos, ou melhor ter músculos, é algo de tão importante.

Para um gay, milhentas razões psicossociais poderão estar na origem do culto dos músculos. Quanto a mim, a principal delas todas, não é mais que a recusa ao estereótipo gay = efeminado = mulher. No processo de construção de uma identidade GAY positiva, todos nós, que se conseguem orgulhar da sua orientação sexual, ou pelo menos por ela não se culpabilizem, um dia tivemos que construir, uma imagem positiva de nós mesmos.

Ter músculos, para um gay, pode quase ser um statement tipo: sim sou gay, mas não me enquadro na imagem com “valor negativo” que a sociedade tem dos gays. O mesmo se passa com os bear ou com todas as tribos, que existem ou possam vir a surgir, no universo gay, porque simplesmente ser gay e muito menos ser homossexual, só por si só, não confere a ninguém, rigorosamente nenhuma identidade.

Há quem refira, que a massificação da obsessão dos gay pelos músculos, também pode ser uma reacção, face ao estereotipo social que associou gay a HIV e às primeiras imagens das pessoas infectadas, veiculadas pelos meios de comunicação social

Ah e então porque é que há barbies preconceituosas relativamente aos gay que não são barbies?

Ou por outras palavras? Porque é que há "barbies do mal"?

Exactamente pela mesma razão, que há gays que são preconceituosos relativamente aos transexuais, exactamente pela mesma razão, porque há gays que não são musculados preconceituosos relativamente aos gays que são musculados (as tais barbies), exactamente pela mesma razão, porque há brancos preconceituosos relativamente aos pretos, exactamente pela mesma razão, porque há pessoas com uma nacionalidade, preconceituosas relativamente a pessoas de outra nacionalidade, exactamente pelas mesmas razões que há mulheres preconceituosas relativamente aos homens, exactamente pela mesma razão há gays preconceituosos relativamente a heteros, exactamente pela mesma razão que há homens preconceituosos relativamente a mulheres, exactamente pela mesma razão que há gays preconceituosos relativamente a gays, ... exactamente pelas mesmas razões, que nós, na maior parte das vezes, somos preconceituosos relativamente a quem simplesmente não é igual a nós.

Não somos preconceituosos apenas a quem é diferente de nós, somos, na maior parte das vezes, preconceituosos relativamente a quem não é IGUAL a nós. Respeitar a diversidade, algo tão simples como respeitar o outro na sua individualidade, é uma aprendizagem, que só se consegue fazer, quando já conseguimos aprender a aceitar-nos a nós mesmos.

Para terminar, e correndo o risco de a seguir ter a caixa de e-mail, cheia de mensagens homófobas, assinadas por pessoas cujo carácter nem sequer lhes permite a coragem de se identificarem, I wanna be a barbie, ou melhor, I'm a Barbie Boy! e sabem porquê? A resposta está aqui à frente, na minha cena preferida de um dos meus filmes preferidos.



Antonia San Juan la, Agrado monólogo, no Todo Sobre mi Madre, do Pedro Almodóvar.