domingo, 30 de março de 2008

Achille Castiglioni



Achille Castiglioni (1918-2002) ou apenas Castiglioni, arquitecto e designer, não é um designer de iluminação, mas o designer da iluminação.

Castiglioni, apesar de arquitecto, dedicou quase toda a sua vida ao design industrial e muito em especial ao design de candeeiros. Os seus candeeiros ou melhor objectos de iluminação, são de tal forma perfeitos, que ainda hoje, para além de continuarem a ser completamente actuais, continuam a ser fonte de inspiração para tantos outros designers.

Talvez já tenha visto muitas peças dos Castiglioni, sem saber que dele se tratavam. Pode ver aqui todas as peças de iluminação dele e do seu irmão, que a FLOS ainda produz e comercializa, empresa que desde o início sempre esteve associado.



O seu estúdio em Milão, local onde Castiglioni, sonhou todos os seus projectos entre 1944 até 2002 ano quando morreu, abriu para visitas ao público em Janeiro de 2006 e eu, que amo todo o seu trabalho, ainda não tinha conseguido ir ver o mundo do Castiglioni, porque as visitas só acontecem aos dias de semana, para além de terem que ser marcadas com antecedência e apenas para pequenos grupos de 10 pessoas cada.

Consegui finalmente fazê-lo





Toca-se á campainha e vem-nos abrir a porta uma mulher simpática, que nos cumprimenta estendendo a mão, apresentando-se pelo nome, do qual eu apenas retive o último nome “Castiglioni”.

A filha do Castiglioni, convida-nos a entrar e sentar-nos, a uma longa mesa, à volta da qual se encontram vários modelos de cadeiras. Cadeiras de design anónimo, uma Thonet, algumas Bertoia e algumas Castiglioni. É-nos pedido para esperarmos 10 minutos, porque ainda faltam duas pessoas para completar o grupo de visitantes.

Quando finalmente o grupo está completo, a filha do Castiglioni, pega numa cadeira rústica, básica e de uso bastante comum em todas as zonas rurais do norte de Itália e pergunta se alguém sabe quem foi o designer que a criou. A partir daqui entramos no mundo maravilhoso do Castiglioni, em que vamos sendo confrontados com os mais diversos e variados objectos de uso comum e anónimos e nos quais Castiglioni se inspirou para criar os seus objectos.

No atelier do Castiglioni, a maioria das peças, não são objectos de designers famosos, nem tão pouco os objectos por ele criados, embora existam alguns, mas a incrível colecção de objectos anónimos, que Castiglioni foi juntando ao longo de toda a sua vida e, que foram a sua fonte de inspiração.

O candeeiro maravilhoso sobre a mesa onde estamos sentados, é um projector de cena de teatro encontrado no ferro velho, uns objectos de madeira estranhos pendurados na parede são restos de madeira pertençentes à antiga paliçada romana de Milão, outros são utensílios agrícologas de ordenha de vacas usados no tempo da pré mecanização e que foram o "esboço" do seu banco de jardim.

Durante duas horas, que passaram como se 10’tivessem sido, é-nos desvendado que o candeeiro Gibigiana desenhado em 1980, apenas assim é, porque foi desenhado para que a sua mulher pudesse ler na cama e a luz não o incomodasse a ele. O candeeiro tem um sistema extremamente simples, mas artificioso, que com a ajuda de um simples espelho direcciona a luz para uma pequena superfície.

Gibigiana design by Achille Castiglioni in 1980, produzido pela FLOS

Ficamos ainda a saber que o seu famoso cinzeiro, tem aquelas espirais, porque Castiglioni era um fumador inveterado, e o que mais o irritava, era não ter um cinzeiro, onde o cigarro pudesse ser poisado sem se apagar.

Ficamos ainda a saber, que perante as mil e uma cópias do seu trabalho, e os mil um processos legais que as empresas que produzem os seus objectos colocaram aos "contrafactores", a sua posição foi sempre a mesma. “se há cópias das coisas que faço, é porque as pessoas gostam do meu trabalho e as coisas para elas funcionam”. E, a prova que assim mesmo deve ter sido, é o indisfarcável orgulho, com que a sua filha nos mostra, a cópia chinesa barata em plástico e em forma de coração do cinzeiro, que do Castiglioni apenas tem a espiral, e que ela trata com tanto cuidado, como o "original". Naquele momento perçebemos, o que toda a vida guiou o trabalho do Castiglioni e que agora, com um tocante carinho, a filha dele nos transmite.


Cinzeiro produzido pela Alessi.

A peças do Castiglioni, são absolutamente funcionais e racionais, obedecendo em rigor ao sacrossanto paradigma forma/função do modernismo, paradigma que é posto em causa, por alguns dos actuais designers estrela do momento, reivindicando que o design hoje, mais que função é também a memória colectiva do objecto.

Mas até nisto, Castiglioni continua a ser absolutamente actual. Os seus objectos não são mais que melhoramentos funcionais é certo, de objectos já existentes, mas extremamente POÉTICOS, e torno a repetir POÉTICOS, porque a função na qual ele se centralizou, não é mais que a “alma” ou essência do próprio objecto, ou seja, o uso que as pessoas fazem do objecto e por isso mesmo, a memória colectiva do objecto.E, ter isto em consideração, é fazer poesia visual.

Uma visita ao estúdio museu do Castiglioni, é como entrar na caverna do Ali Bábá dos maravilhosos objectos de design anónimo, objectos com os quais todos os dia lidamos, e que por isso mesmo, ao nosso olhar, quase invisíveis se tornaram, como na maior parte das vezes acontece, com tudo o que nos é verdadeiramente essencial.

Obrigatório da próxima vez que passar por Milão. Recomendo que faça marcação prévia.


Studio Museum Achille Castiglioni
Piazza Castello, 27
20121 Milano

tel: 02 805.3606
fax: 02 805.3623
e-mail: info@achillecastiglioni.it

Free entrance: at 10.00, 11.00, 12.00 with free 60-minute guided tour
Opening hours: monday - friday 10.00 / 13.00


Gatto - design by Achille Castiglioni and Pier Giacomo Castiglioni in 1960



Toio - design by Achille Castiglioni and Pier Giacomo Castiglioni in 1962


Viscontea - design by Achille Castiglioni and Pier Giacomo Castiglioni in 1960


Taraxacum S - design by Achille Castiglioni and Pier Giacomo Castiglioni in 1960



Parentesi - design by Achille Castiglioni and Pio Manzu' in 1971


Arco - design by Achille Castiglioni and Pier Giacomo Castiglioni (seu irmão) in 1962

2 comentários:

Anónimo disse...

amei este post

Luis Royal disse...

Os nosso parabéns!
Castiglioni é um dos nossos Royals, e confessamos até uma certa comoção quando este morreu.
Entrar no Studio em Milão foi arrepiante, e conhecer uma ex-colaboradora e a mulher (linda).
É muito bonito ver aqui tantas das suas criações juntas (algumas das quais da nossa colecção!).
Viv'ó dézaine!