domingo, 18 de janeiro de 2009

Marmeleiro Japonês à Luz de Lisboa


“… A porta do vestíbulo abre-se para uma manhã de Junho tão bonita e limpa que Clarissa se detém no limiar como se deteria à beira de uma piscina, a admirar a água cor de turquesa beijando os azulejos, as redes líquidas de sol oscilando no fundo azul. E, como se estivesse realmente à beira de uma piscina, adia por um momento o mergulho, a sensação de contacto da membrana viva do arrepio, o choque simples da imersão. Nova Iorque, no seu estridor e na sua severa decriptude castanha, no seu insondável declínio, gera sempre algumas manhãs como esta, manhãs invadidas em todo o lado por uma afirmação tão determinada de vida nova que é quase cómica, como uma personagem de cartoon que sofre infindáveis e horrendos castigos e sai sempre incólume, ilesa para mais. … “

Cunningham, M. (1998). As Horas.Gradiva.

Ontem, ao acordar, a primeira ideia que me ocorreu foi sair para a rua e comprar flores, não qualquer flor, mas marmeleiro japonês.Tinha que ser marmeleiro Japonês.

Não foi um vipe de prazer, nem uma obrigação de estopada, apenas me veio à mona e pronto! Exactamente da mesma forma que nos vêm à mona, as tarefas que temos que cumprir em determinado dia e a determinada hora, como por exemplo as reuniões ou outras tarefas, que nem sequer perdemos um segundo que seja a reflectir, se nos dão prazer ou não, mas para as quais canalizamos toda a nossa energia, porque sabemos serem necessárias, para alcançar os objectivos do projecto em que nos envolvemos e nos comprometemos a dar o nosso melhor.

Marmeleiro japonês, pensei ao acordar! Tenho que ir encontrar em Lisboa flores de marmeleiro japonês.

Foram as saudades de NY e a recordação dos jarrões cheios de marmeleiro japonês do MET no mágico mês de Janeiro, a seguir ao 11st september, os responsáveis por esta vontade súbita? A passagem do Cunningham no livro As Horas, que já li há não sei quantos anos? A manhã clara e pura com que ontem Lisboa acordou, e que nada de diferente tem, das manhãs claras e puras, que acontecem em todas as cidades do mundo, quando as pessoas querem acreditar que naquele preciso momento, é possível começar a renascer? Foi o resultado do primeiro verdadeiro fim-de-semana que passei em Lisboa, depois do último mês?

Que se lixe, ou melhor que se foda. Quero lá saber! Ontem sábado de manhã foi a primeira manhã do ano em que se esboçou novamente a esperança de uma nova Primavera. Foi fugaz, porque logo a seguir ficou uma tarde de merda, com o céu cinzento e uma luz suja, mas enquanto durou, foi a luz de Lisboa no seu melhor.



Fotos obtidas com o meu moleskine digital. As flores do marmeleiro Japonês, foram encontradas na Em Nome da Rosa, na Rua D. Pedro V. 97-99, em Lisboa ali ao Principe Real.

3 comentários:

Anónimo disse...

Lindo texto e fotos e o livro As Horas é de facto maravilhoso. o melhor do Cunningham.

Anónimo disse...

A florista que falas onde arranjaste as flores é aquela que tem sempre uma montra fantástica?

poor guy fashion victim disse...

Sim exactamente, é essa mesma.