quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Post aberto ao M

M, porque a coisa tomou proporções semi-públicas no facelifting e em nome dos afectos que te dedico aqui fica este post:

Não era suposto eu dedicar a isto mais que 5’’ da minha atenção, já que entendo que só um muito mau jornalismo, direi mesmo jornalismo abaixo de cão, dá cobertura a “não notícias”, que cobrem acontecimentos que abarcam desde as rugas da Lili Caneças, à proveniência do filho do Ronaldo.

Acontece que recebi o link para este vídeo de uma pessoa a quem dedico afectos de amizade, acontece que essa pessoa para além do enquadramento da relação pessoal que temos é jornalista e por esta razão, dela espero uma responsabilidades acrescida (é, é lixado, com os amigos somos sempre mais exigentes), acontece que de forma que considerei leviana, o referido vídeo vinha acompanhado de comentários fúteis de escárnio em que o alvo não era a qualidade, ou total falta dela, jornalística da peça, mas aquela duas pessoas enquanto pessoas.

Vamos então por partes:

a) Repito, o que primeiro retiro deste vídeo é a total falta de qualidade editorial do CM e arrisco mesmo dizer, falta de ética jornalística. A responsabilidade de definir o que é ou não notícia é sempre do MCS e os critérios que norteiam a escolha do publicável ou não publicável, nunca são nem neutros nem isentos.

b) Se ao MCS compete definir editorialmente a relevância do que é ou não noticia, ao jornalista compete a abordagem à notícia, que uma vez mais não é igualmente isenta. Se acho expectável que a maioria dos leitores do CM não saibam diferenciar identidade de género de homossexualidade, já não me parece razoável, que o jornalista igualmente pareça nem sequer saber o que ambas as palavras significam.

c) A homofobia é uma coisa lixada, tão lixada, que por vezes são os indivíduos que pertencendo a um subgrupo do grupo discriminado, descriminam os elementos dos outros subgrupos. Chama-se a isso homofobia internalizada. Como refere Pierre Bourdieu na “Dominação Masculina”, e vou citar a ideia de memória, a perpetuação das regras de poder são também asseguradas pelo grupo dominado, já que são os elementos do grupo discriminado que asseguram também as regras de poder, ao sancionarem (discriminarem) os seus pares que ousam colocar em causa as regras de manutenção do poder.

d) Vamos agora à parte estética da coisa, e por estética entenderei sempre forma e conteúdo. Vejo o vídeo e esquecendo a “pulhice” do seu aproveitamento pelo CM, sinceramente emociono-me. Emociono-me pela coragem de duas pessoas que sonharam e tudo fizeram para cumprir esse sonho, emociono-me pela sua coragem e acho “LINDO” porque sempre acharei LINDO o amor e a felicidade das PESSOAS, sejam elas quem forem.

e) Olho para os comentários jocosos relativamente ao vídeo e fico deprimido, pelo facto de existirem pessoas, supostamente com mais ferramentas intelectuais e cognitivas, incapazes de “ver o essencial”.

Perdoem-me os leitores, ao terminar com uma mensagem pessoal.

M, penso que já me conheces o suficiente, para já teres percebido, que acredito em absoluto que a beleza que se liberta da superfície das coisas e das pessoas, não é mais que o resultado de tudo o resto e que superfícies sem conteúdo, são só e apenas não formas e, se enquanto “modernista furioso” não tenho horror ao vazio dos espaços, tenho enquanto pessoa, horror ao vazio das “almas” e, almas vazias são mesmo “coisas” ás quais tenho muito pouca capacidade de tolerância.

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