sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Objectos Perfeitos # 12

Os objectos do Jasper Morrison têm tudo: forma, função e alma e tudo o mais que é preciso para serem um objecto completo, com o qual somos capazes de criar relações de afectividade. Os seus objectos tendo sempre algo de novo, são igualmente familiares. Uma colher é sempre uma colher, uma cadeira uma cadeira, um banco é um banco e um prato corresponde à imagem abstracta, que nos vem á memória, sempre que evocarmos mentalmente a palavra prato.

Nestes tempos que correm é muito bom saber que existe um designer vivo e em plena produção, que é verdadeiramente um designer.

Os seus objectos não têm a pretensão de serem arte, não têm a pretensão de questionarem o que é ou não design ou o que é ou não arte, nem precisam de perder-se e enrodilhar-se em pseudo manifestos, análises e conceptualizações estéreis, apenas massajadoras do umbigo de personalidades promovidas a estrelas do design, porque os seus objectos estão para além de tudo isto, e são apenas o resultado da síntese, que é a etapa que se segue à decomposição e análise, etapas de onde a maior parte dos designers estrela das revistas de referência do design ainda não conseguiram sair. Quem sabe se a crise não começou já a mostrar que o rei vai nu e que esta coisa do pós modernismo, pode ser tudo, menos o que por aí andaram a apregoar?

Jasper Morrison criou The Crate, conta ele, depois de ter mudado de casa e ter percebido que o caixote que improvisou durante algum tempo, era tudo o que precisava enquanto mesa de cabeceira e, toda a gente pensou que foi um manifesto. Quanto a mim, o melhor manifesto que Senhor Morrison já fez não foi o “The Crate” mas as colheres de pau AJM27SET – KitchenTools, produzidas pela Alessi.


Foto via Alessi

Uma colher de pau é apenas uma colher de pau e está tudo dito, mas as três colheres de pau do Morrison, para além de serem as melhores do mundo, continuam apenas a ser colheres de pau, em forma, em função e em preço sem qualquer outro tipo de pretensão, mesmo que acabem por ser, para quem as usa, muito mais que simples colheres de pau ou não encerrem elas toda a carga simbólica que ocupa uma colher de pau, num sistema produção, consumo e utilização. Curiosidade: uma lei da CE, interdita o uso de colheres de pau na restauração.

Quando aos uso que delas faço: a que tem a forma mais semelhante a um espátula é ideal para panquecas, crepes e até bifes. A do meio é essencial sempre que faço um refogado e para o mexer o risotto. A plana serve para servir o risotto como é óbvio! Ah também é óptima para mexer sopas.

P.S. A numeração #12, atribuída a este “Objectos Perfeitos ”, não é uma gralha. Resolvi saltar o # 11. Já sei qual é mas não me apeteceu escrever hoje sobre ele, e as AJM27SET – KitchenTools tinham que ser obrigatoriamente o #12.

1 comentário:

Luis Royal disse...

um "utilista" primoroso!
muito embora "the crate" seja mais um manifesto (um belíssimo manifesto, é certo) do que qualquer outra coisa, ou não se justificaria um "caixote" custar mais de 100 euros.
e há espaço para utilistas e umbiguistas. há espaço para tudo.