quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara

Apesar das reclamações, não me apeteceu escrever acerca das tendências. Deveriam agradecer-me, quanto mais perto dos saldos tivermos presente o que na verdade devemos comprar, melhor para o cartão de crédito.

Pois é, apeteceu-me escrever acerca de um dos meus livros preferidos e de que se tem falado muito recentemente, não por causa do livro, mas por causa da sua adaptação ao cinema.

Refiro-me ao Ensaio sobre a Cegueira do José Saramago (1991) que só não é o meu livro preferido do Saramago porque não sei onde hei-de colocar na prateleira das preferências O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), a história de amor entre o Sete Sois e a Sete Luas ou até o Ensaio Sobre a Lucidez (2004).

Ainda não vi o filme do Fernando Meirelles e por isso apeteceu-me discorrer bacoradas acerca do livro.

Entre o livro que notoriamente serviu de modelo a Ensaio Sobre a Cegueira , A Peste (1947) do Alberto Camus, prefiro a horrores de léguas a epidemia de cegueira branca do Saramago.

Para mim, um livro apenas passa para a estante dos “preferidos”, se ao fim de alguns anos após a sua leitura, as suas palavras ainda me ecoarem na memória. No caso do Ensaio Sobre a Cegueira, mais que as palavras são as imagens. De todos os livros do Saramago, é o mais visual, e apenas por isto e só isto, já seria para mim um livro genial.

A cidade é acometida por uma epidemia que vai cegando toda a gente. Todas as pessoas, uma atrás da outra vão mergulhando numa cegueira branca, todos, com excepção uma mulher e um cão.

A partir daqui, é o mergulhar nas terríveis imagens, que as maravilhosas palavras do Saramago conseguem criar na mente do leitor.

A mulher dos óculos escuros, os olhos dos santos vendados na igreja deserta, a velha que sobrevive à custa de couves e carne crua de coelho, … as imagens escarrapachadas à frente dos nossos olhos, do melhor e do pior que nós os humanos somos capazes de fazer uns aos outros.


"Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara.", cita do "Livro dos conselhos", de El-Rei Dom Duarte, Saramago no início do livro.

1 comentário:

Anónimo disse...

COMPLIMENTI! SEI UN NUMERO UNO: BRAVISSIMO :-)