quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Os disparates da Simone

Eu que já tinha um post preparado para sair hoje, acerca das marcas de cuecas que um gay, e não só, deve usar, para que não faça má figura na hora do saltar para a cueca, tive que fazer um realinhamento, depois de ter lido a entrevista da Simone de Oliveira na Time Out de ontem.

Eu não tenho nada contra a Simone de Oliveira, nem a favor nem contra e nunca sequer me interroguei, se a Simone seria ou não uma diva ou ícone gay em Portugal. Apenas acho a Simone simpática, porque estando eu uma vez, precisamente no restaurante que é referido na entrevista, o “Põe-te na Bicha”, estava lá a Simone a jantar e, como eu na altura, andava de forma independente a recolher assinaturas, para a petição que foi entregue na Assembleia da República, para a revisão da lei relativa ao casamento civil, de forma a ser possível em Portugal, o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo, perguntei-lhe se ela assinava, tal como perguntei a todas as outras pessoas que estavam no restaurante e a Simone, educadamente assinou.

Eu que não sou misógino mas que também não tenho o meu imaginário povoado de divas, nem gay nem outras, que não quero ser mulher, que me sinto muito bem na minha identidade masculina, vejam lá sou COMPLETAMENTE GAY! Isso mesmo, ou ainda tinham dúvidas, mesmo depois do nome deste blog? Isto já para não falar dos post sobre velas!

Pois é, sou gay! e se o meu imaginário tem muito mais a ver com os lenhadores ou os policias do Tom of Finland, que com a Dalida, quando muito a Maria Callas ou a Madonna, mas nem isso, não acho nada ridículas as pride ou paradas gay como lhe queiram chamar, mas antes necessárias e fundamentais, porque são uma forma de eu mostrar aos outros, que não me envergonho nada da minha orientação sexual e que não aceito ser discriminado e, se não aceito ser discriminado, tenho que começar por não discriminar, quem não tem o mesmo imaginário que eu, os mesmos gostos estéticos que eu, independentemente de terem ou não a mesma orientação sexual que eu.

Nas gay parade há tantos gay, que para o meu gosto estético me poderão por a vomitar, quantos gay ou heterosexuais ou bisexuais ou seja lá o que forem, num desfile do Roberto Cavalli, ou no Colombo num domingo à tarde.

Penso que quando a Simone disse, que um gay era um homem que queria ser mulher e um homossexual era um homem que gostava de homens, o que revela, não é que a Simone diga disparates, mas que em Portugal existe uma enorme falta de cultura geral básica acerca deste assunto, talvez porque Portugal, seja um dos países da Europa em que sobre o tema homossexualidade se digam os maiores disparates, se tenham os maiores preconceitos, se caia nos maiores esteriótipos. Armadinhas em que caem homossexuais homofóbicos e não homofóbicos, heterossexuais homofóbicos e não homofóbicos, como acho que é o caso da Simone, meios de comunicação social e, políticos incluídos.

Quase que se pode dizer que nesta terra, os únicos que não dizem disparates, quando o tema é homossexualidade, são os muito poucos gay que existem em Portugal, e que podem ter a certeza não são em número igual ao de homossexuais. Salvam-se ainda uma meia dúzia de não homossexuais, com verdeiro sentido de cidadania, a quem os outros sejam eles hetero homo ou bissexuais que se julgam cidadãos mas não o são, prontamente apelidam de "activistas de causas".

A palavra gay, que de facto na tradução à letra significa alegre, foi uma palavra usada inicialmente, para injuriar os homossexuais e provavelmente alguns homens heterossexuais, que evidenciassem comportamentos efeminados, aquilo a que em português pode corresponder à pior forma de usar a palavra “bicha”.

O que aconteceu com a mudança de conotação da palavra gay, foi um dos mecanismos sociais mais belos que se verificam na construção de uma identidade. O grupo discriminado, passa a usar para se auto definir, a palavra que o grupo discriminante, injuriosa e pejorativamente usa para o discriminar.

O conteúdo da palavra, não muda, o que muda é a valoração desse conteúdo. O que o grupo discriminado “diz”, é que não aceita que aquilo pelo qual está a ser inferiorizado, seja considerado mau, ou inferior e, por isso “exibi-o” ORGULHOSAMENTE.

Aconteceria o mesmo com a palavra “bicha”se os homossexuais portugueses, a passassem a usar para se auto definir, publica e POLITICAMENTE na luta dos seus direitos. Aliás o que já está acontecer com a palavra “marincon” em Espanha e “pd” em França e que já entraram na linguagem comum e são utilizados com uma conotação politica.

Em Espanha a palavra “maricon”é usada com uma conotação, como poderei dizer, de afirmação e orgulho, por aquilo que se é, quando usada pelos “gay” e cada vez mais usada com uma conotação positiva pelos heterossexuais. Ainda me lembro de um dos slogans do ano passado da gay pride de Madrid e que foi amplamente utilizada de forma positiva em vários meios de comunicação social “maricones somos todos”.

Bem há várias pessoas que sabem falar e escrever sobre isto e muitas outras coisas, muito melhor que eu, entre as quais o Miguel Vale de Almeida. Visitem o seu blog Os Tempos que Correm, os actuais e os que já passaram, ou seja, visitem também o arquivo do seu blog, que é uma verdadeira biblioteca acerca destas questões. Vá vão lá e aprendam alguma coisa, para poderem ter tema de conversa com o passageiro que se sentou ao vosso lado, no voo low cost, para Ibiza.

Para mostrar à Simone de Oliveira que não estou zangado com ela, abri pela primeira vez a excepção à regra, de neste blog, não publicar fotos de mulheres. Apetecia-me dizer, fotos de gajas, que está mais de acordo com o espírito do blog, mas a Simone pode ofender-se.

E se não costumo publicar fotos de gajas, não é porque seja misógino, torno a repeti-lo, mas apenas porque, apesar do blog ser gay e falar de moda e outras bichices, só fala de moda para homem, porque eu não percebo rigorosamente nada de nada de roupa feminina, nem o tema me interessa um bocadinho que seja.

Em breve falaremos de um assunto mais interessante, as marcas de cuecas, que um gay fashion e cosmopolita deve usar.

Crédito de imagens: Reprodução/ Internet

2 comentários:

Anónimo disse...

Um blog bem concebido...que mostra bem a realidade existente na mentalidade de algumas pessoas que se dizem cultas e avançadas e na maior parte dos portugueses, que a ideia criada pelos media em relaçao à homossexualidade na maior parte das vezes nao corresponde á realidade e que as figuras que muitas vezes aparecem na televisao, no jornal, revistas, etc nao são melhor exemplo disso, mas há que dar mão à palmatória, são algumas dessas pessoas que dão a cara que fazem com que cada vez mais, a pouco e pouco, a mentalidade portuguesa comece a crescer...e a propósito de gajas, já há tanto site, páginas e blogs a falar de gajas, que acho muito bem que este seja um blog para homens que gostam de ser homens e a gostar de outros homens...em relaçao à moda, nos dias que correm podemos dizer que até os homens ditos hetero estão cada vez mais gay na maneira de vestir, o que não é pa admirar porque há felizmente gays com muito bom gosto...deixo os meus parabéns ao criador deste blog...e estarei atento a notícias e desenvolvimento...atentamente...um portugues gay que pelo menos tenta ser fashion...

Anónimo disse...

Começa-se com pequenos passos, até chegar ao grande salto! é um blog, onde existe sem duvida a "noticia" que muitos nao sabem aperciar, sendo mesmo estes homosexuais... Depois, tambem pensam que sabem o que é realmente a moda, a cultura ... sem saber realmente o que estes pontos tentam exprimir! Este blog, devia ser nao so apenas uma pagina de web, mas tambem uma revista. Já faz falta, algo para a parte masculina, para que possam acompanhar todas as mudanças culturais do lado masculino! Afinal, temos tanto direito como as mulheres, independentente da opção sexual!

Parabens!