
Nova Iorque é uma das cidades que melhor me recordo das ruas, dos edifícios, das lojas e até nem é pouco mais ou menos uma das cidades na qual mais tempo passei. Dou por mim em Lisboa a tentar lembrar-me da Av. do Brasil e nada me vem à memória e para que não pensem que esta imagem não me surge na mona, só porque é a Av. Do Brasil em Lisboa, juro, juro, juro, que se quiser ter uma imagem mental, assim tipo slide, da Via Monte Napoleone, daquela que no momento já é a minha segunda cidade, juro que não consigo.
Era Inverno, o último dia do mês de Dezembro que se seguiu ao 11 de Setembro e a cidade parecia ter sido contagiada por uma estranho vírus que provocava nas pessoas, comportamentos até então impensáveis para um “new yorker”. A cada momento ficava chocado, com o sorriso aberto e caloroso que perfeitos estranhos me dirigiam espontaneamente na rua, ficava desconcertado pela oferta de ajuda não solicitada com que era bombardeado, sempre que abria um mapa ou um livro, que vagamente se assemelhasse a um guia.
Num dos seus Livros, Paul Auster escreveu que nas ruas de Nova Iorque, as pessoas podem ter os comportamentos mais bizarros, vestir-se da forma mais bizarra, que mesmo assim, nenhum dos transeuntes demonstra admiração ou mostra sequer prestar atenção, mas basta alguém, ter a ideia louca de olhar nos olhos um desconhecido que passe na rua, para o transito parar na Quinta Avenida. Olhar directamente nos olhos um desconhecido na rua em Nova Iorque é o equivalente a um acto pornográfico.
Apesar do exagero literário do Paul Auster, sempre que estive em Nova Iorque percebi e senti o que ele quis dizer, mas agora, naquele fim de Dezembro frio mas com sol, ficava completamente confuso com o comportamento das pessoas na rua. Nem o interior do Guggenheim, totalmente pintado de preto pelo Jean Nouvel, para a exposição Brazil – Body & Soul me tinha espantado tanto.
Era Dezembro, estava em Nova Iorque e passeava-me por Soho ao final do último dia do ano, embalado pela imagem de pessoas apressadas, que saíam do Dean&Deluca carregadas de sacos de compras e ramos de flores. Ali perto uma esquina chamou-me atenção. No edifício onde também fica o Guggenheim de Soho, imensas pessoas entravam e saíam por uma das imensas portas de vidro, daquilo que me pareceu ser uma galeria. Tentei ver alguma coisa escrita num dos vidros, que me desse pistas acerca da exposição, mas nada. Entrei e deparei-me com o que me pareceu ser uma “pista” de skate em madeira clara, ladeada por escadas íngremes cheias de sapatos, que algumas das pessoas que passavam experimentavam. Entrei no que pensei ser uma instalação e tentei perceber o sentido. O movimento das pessoas, a luz, as curvas do interior, os sapatos e algumas peças de roupa penduradas articulavam-se de tal forma entre si, que tudo me parecia uma coreografia na qual também eu participava.
No final das escadas apercebi-me finalmente que estava na Prada de Nova Iorque projectada pelo Koolhaas.


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