sábado, 17 de dezembro de 2011

Nascer e morrer num barco, em alto mar





Na ilha de Moçambique, um dos locais mais terrivelmente belos que conheço, numa igreja da qual não lembro o nome, ao lado do antigo palácio do governador, encontrei um dia uma lápide, creio que do Sec XVIII, com o nome de uma mulher, a data do seu nascimento e a data da sua morte, ambas a bordo de um barco.

Jamais apaguei da memória a mulher de quem nada sei, e que nasceu e morreu em alto mar. Vi a lápide uma única vez, no penúltimo dia que estive na Ilha de Moçambique e, proposidadamente, não escrevi sequer o nome da mulher que morreu e nasceu no mar, proposidatamente não fotografei a lápide, proposidadamente não voltei lá na manhã seguinte.

Gosto de imaginar os cerca de 30 anos de vida da mulher que morreu e nasceu num barco, gosto de construir só para mim episódios da sua vida, gosto de construir na minha memória imagens da sua morte e do seu nascimento mas, nunca lhe dei um rosto.

Hoje, ao saber da morte de Cesária Évora, recordei a mulher que morreu e nasceu num barco, em alto mar.

Sem comentários: