quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Potlatch de Outono



O paladar talvez seja o sentido que mais facilmente nos evoca memórias. Talvez por isto, quando tudo perdemos e nada podemos transportar connosco, a primeira coisa que fazemos ao chegar ao novo local, seja recuperar à memória o receituário dos sabores que experimentamos nos momentos passados e que no presente sentimos como momentos felizes. Nada como um sabor, seja ele o da madalena de Proust o do arroz doce de Eça ou até o do primeiro McDonalds que experimentamos na vida, para imediatamente nos conectarmos com outro tempo e espaço.



Tenho com a minha vizinha um potlatch, contratualizado através de uma tigela de marmelada. A cada novo Outono que chega sinto a textura do papel vegetal despegar-se da superfície açucarada exterior, depois o crack da faca a parti-la e depois a fruta ainda quase só transformada em creme e basta levar a primeira colherada à boca, para na minha memória surgirem as dezenas de tigelas de marmelada que a minha avó deixava a secar ao sol no parapeito da varanda das traseiras, antes do potlatch que ela mesma celebrava com as suas vizinhas.

Sem comentários: