domingo, 7 de agosto de 2011

O Astronauta



Nas imagens mais antigas que guardo tuas estás de pé frente à bigorna alta. Não te vejo a cara coberta pela mascara de soldar e julgo que as faúlhas que se soltam das tuas mãos são estrelas. Escapuli-me à Teodora que corre para mim aflita e zangada. Rio e resisto aos braços e às mãos da Teodora de quem não gostava. Ao sentir-me preso faço birra, atiro-me ao chão, dou pontapés e choro. Quero tocar-te, apanhar as estrela e tirar-te a máscara de astronauta. Das estrelas verdadeiras, ensinaste-me depois o nome alguns anos mais tarde. Hoje, quero rever-te outra vez frente à bigorna alta com as mãos dos dedos semi-amputados a fabricares estrelas, as mesmas mãos dos mesmos dedos, que levavas aos bolsos atafulhados de bolachas partidas que atiravas aos cães vadios.

Anos mais tarde deram-me a tua máscara de soldar. Deram-me e depois tiraram-ma, como se fosse possível roubar a alguém as estrelas.

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