sábado, 18 de junho de 2011

Que fazer com este livro?



Há mil frases do Saramago que hoje aqui poderia transcrever. Se quissesse relacionar uma com a situação do que é a nossa democracia hoje, teria que usar todo o Ensaio Sobre a Lucidez, se quissesse falar de amor, teria que ir pedir palavras emprestadas à Blimunda Sete-Luas e ao Baltasar Sete-Sóis, se quissesse falar sobre os abjectos meios de comunicação social que temos hoje, acho que utilizaria o Ensaio Sobre a Cegueira; também serviria para a Europa e, meter-lhe em cima a Jangada só ficaria bem; se quissesse falar sobre a globalização e a importância do trabalho iria reler a caverna, e, poderia continuar por todos os livros e por todas as grandes pequenas coisas da vida e da morte dos Homens.

Hoje vou reler-lhe esta passagem dos Cadernos de Cadernos de Lanzarote, porque Saramago foi sempre para além de um grande escritor, um gajo do seu tempo, que nunca calou, que nunca vergou.

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos

José Saramago

Sem comentários: