terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fall Winter 2009/2010 - O que vamos vestir depois dos saldos.

Os tempos são de crise e por terras tugas o verão arrasta-se numa agonia sem vim. A sensação que tenho é que estou num corredor à espera da chegada dos dias curtos, frios e sem sol e nem isso chega, nem este sol consigo aproveitar, porque estou precisamente num corredor, à espera!

Bom como ia dizendo estamos em plena crise, (ou já será recessão?) e as colecções para a estação que se aproxima foram as primeiras em que os designers, já desenvolveram parte do processo criativo sob o fantasma desta crise planetária.

Como reagiram então os criadores a isto? As colecções reflectem pessimismo? Reflectem destruição? (O grunge surgiu após a crise do final dos anos 80). Refugiaram-se no minimalismo e na parcimónia tal como aconteceu no início dos anos 90?

Não, nada disso, a moda apenas se ancorou em zonas de conforto, rebuscando peças clássicas que foram totalmente reinventadas, conservando apenas os elementos axiais da memória colectiva do que foi a história do vestuário nos momentos mais marcantes do século passado. Paradoxalmente alguns dos elementos recuperados, evocam romanticamente a decadência do luxo após as maiores crises da História recente: A Revolução Russa, a Grande Depressão, as duas Grandes Guerras Mundiais.

Dsquared recuperou elementos das indumentárias da classe alta americana, usadas entre a Grande Depressão e o final da Segunda Guerra Mundial e quase conseguimos criar na nossa memória os figurinos completos para ilustrar a leitura de Washington, D.C. e The Golden Age do genial Gore Vidal.









D&G foi um pouco mais atrás na história, e recuperou peças de cossacos, de príncipes e outros nobres exilados no Paris do início do Sec XX após a Revolução Russa, que conjuga com jeans de uma forma totalmente contemporânea. Aliás o que é mais marcante em quase todas as propostas, não só na D&G mas em todos os outros criadores, é a integração cirúrgica de elementos de uma determinada época no vestuário de hoje.Mais que a recuperação de uma peça de época, como se de um figurino se tratasse, estamos perante peças de vestuário que evocam historicamente a moda.









Prada com os seus novos blazers assertoados, evoca-nos as dezenas de contabilistas de colarinho branco assalariados da pós revolução industrial. Delicioso o pormenor da maior parte deles terem sido apresentados precisamente sem a peça de roupa que tem colarinho, a camisa.








A colecção Dolce&Gabbana remete-nos para os roupões e peças de trazer por casa dos cavalheiros e damas de Londres e da Inglaterra vitoriana. A mesma Inglaterra capaz de exilar Óscar Wild em Paris e capaz de fazer entrar Virginia Woolf rio adentro com os bolsos do casaco de tweed cheios de pedras. Mas sem ficarem agarrados à Inglaterra Vitoriana, Dolce e Domenico, saltam as duas guerras e fazem aterrar os modelos num salão de baile, algures entre a Itália do pós guerra e a nova Americana potência mundial.

















Alexander McQueen reinventa ainda mais os seus dandies e quase que podemos vislumbrar Anthony Blanche em Brideshead Revisited.Sebastian Flyte a Charles Ryder também foram convocados para os desfiles e por lá apareceram a morrer de amores não assumidos um pelo outro, mas andaram mais pelos lados do Paul Smith e da Dsquared.










Os Chapéus, modelo tipo Borsalino, que apareceu em quase todas as colecções, foi no passado, durante décadas e décadas, o acessório masculino obrigatório de toda a classe média e média alta.Era impensável um homem sair à rua de cabeça descoberta. Nas classes mais baixas trabalhadoras, ou nos rapazes antes da maioridade, o chapeu era substituido por uma versão mais prática, o boné, que igualmente reapareceu em grande parte das colecções. O que se segue é Dolce e Gabbana.




Por fim, temos os soldados (soldados e oficiais) da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, que emprestaram os casacos a quase todos os criadores. Aqui ficam os Dolce &Gabbana. Caso queira inspirar-se com maior pormenor nesta tendência, veja e reveja Sacanas sem Lei do Tarantino, que aliás serve não são para a tendência militar como para todas as outras.






Ricardo Tischi para a Givenchy, para além de alinhar no clássico em versão novo tipo de hiper macho, continuou a brindar-nos com o seu New Leather Man. Prada igualmente teve incursões leather e até rubber, mas infinitamente menos interessantes.







Baralhando e tornando a dar, na próxima estação, depois do saldos claro está, que tempos de crise são tempos de crise, podemos optar por adoptar um look new James Bond, ou então look de militar desertor ou apenas queremos ser um guy next door reinventado. Mas isso ficará para um outro post, que com este calor, só me apetece ver os calções da Dsquared para o verão 2010 que ainda está tão longe.

Todas as fotos são do Márcio Madeira e foram conseguidas via Men Style.

5 comentários:

Luís Santos disse...

A verdade é que algumas destas peças só mesmo para os saldos... O tempo assim o obriga.

Adorei este post. Abraço

Jotta disse...

Porquê nenhum comentário sobre o que viste na Moda Lisboa? Pelo menos um desfile sei que assististe e fotos do mesmo também as consegues obter. Posso deixar-te aqui o desafio?
Abraço

poor guy fashion victim disse...

Luís Santos: A ideia foi essa, fazer um apanhado do que mais gostei já em cima da estação, para preparar os saldos ;))

Jotta: só escrevo sobre o que pessoalmente gosto verdadeiramente e acho verdadeiramente excepcional (isto é um blog individual) e igualmente sobre o que conheço bem. Com isto não quero dizer que o que vi da Moda Lisboa tenha sido mau mas, ... olhe... que dizer-lhe?!! A Moda Lisboa não me motiva para que sobre ela escreva.Pode encontrar por ai matéria sobre a Moda Lisboa em muitos outros blogs.

Luis Santos disse...

Apoiado a 100% - PGFV. Basta de politicamente correcto. Para que dizer que em Portugal temos moda muito boa quando na verdade nao nos diz nada? Para que falar em criadores portugueses quando temos D2, DG, ...? A moda portuguesa ainda tem mt que crescer

poor guy fashion victim disse...

A grande questão será "Moda Portuguesa" se já nem uma moda francesa existe, quanto mais uma Portuguesa.

De moda femenina nada perçebo, já o repeti várias vezes e torno a repetir.

Quanto à moda masculina: os defiles, independentemente da nacionalidade da marca ou do criador ou do director criativo da marca, desfilam em Milão (com uma ou outra excepção para os Americanos e vá lá pequenos apontamentos em Paris). O resto nem se pode dizer que exista no sistema da moda neste mundo globalizado em que o acesso é a regra, independentemente de onde nos encontramos, toda e qualquer outra expressão, são apenas apontamentos regionais. Logo, a grande questão é: faz sentido uma coisa como a Moda Lisboa com o posicionamento que tem?

Bom, mas não quero ir por aí. Reflicta sobre isto quer tiver que reflectir, que eu não sou pago para isso nem daí tiro qualquer prazer.Falar dos dinheiros públicos que são canalizados para a Moda Lisboa e do real retorno que isto tem,já seriam outros 5 cêntimos.

Obrigado por ler o blog.