terça-feira, 21 de abril de 2009

Der Himmel über Berlin #7



Detesto escrever isto, mas as piores horas da semana que passei em Berlim, foram as que gastei no Berghain.

Não deveria ter feito o meu debut no Berghain num sábado de Páscoa, que é quando o clube, conjuntamente com o Lab Oratory, um sex club que funciona no mesmo edificio, organiza uma festa gigantesca que dá pelo nome de Snax.

Como já devem ter deduzido, sou viciado em trapos e sapatos, mas detesto, odeio, festas temáticas, máscaras de carnaval, ou outras fantasias, sejam elas quais forem. As máscaras do quotidiano, se bem que mais agarradas à pele, são sempre mais interessantes. E porque estou eu a falar de fantasias de carnaval?

O Snax enquanto festa leather fetichista, obriga a dress code fundamentalista, então, lá tive eu que, contrariado, enfiar os meus chaps, sob o risco do animal do porteiro, não me deixar entrar.

O clube fica num gigantesco edifício industrial, que foi uma antiga central eléctrica da ex RDA e é arquitectonicamente no género, um dos locais mais interessantes que conheço.

A intervenção para transformar a antiga central eléctrica num clube que é constituído por uma discoteca (o Berghain propriamente dito), um bar (Panorama Bar) e um sex club com pista de dança, (Laboratory), funcionando separadamente ou abertos uns para os outros dependendo da programação, poderia ter seguido os princípios da Carta de Veneza. O espaço não foi alindado, nem tornado bonitinho, as intervenções necessárias ao novo uso são assumidas sem mimetizar o pré existente. O cimento é cimento, o ferro é ferro o plástico plástico, e já agora o cabedal é cabedal e a boracha é boracha e até aposto que as casas de banho, são exactamente as de origem.

A música é techno puro, e a energia que se liberta das paredes é magnética. Julgava eu por isto, estarem reunidas todas as condições, para poder morrer e ressuscitar 10 vezes, pelo menos até às10 da matina do dia seguinte, dia em que o mundo ocidental católico, protestante, judeu, ateu, agnóstico, ou seja lá o que for, comemora aquela coisa de um gajo ter ressuscitado, em alma e corpo.

Para começar, como eram cerca de 3.500 mascarados de leatheronas a querer entrar, o tempo de espera na fila foi de cerda de 1.30’. Uma vez lá dentro, tive que fugir do cheiro nauseabundo a merda, que as zonas dos quartos escuros emanavam para todo o resto da discoteca, tive ainda que aguentar o péssimos sistema de ventilação e apanhar com o péssimo sistema de som, que é merdoso de péssimo, em ambas as pistas ( a do Berghain e a do Laboratory). Bem sei que o espaço é gigantesco, mas quando se é considerado o melhor clube do mundo, não se pode ter um sistema de som que não seja no mínimo cristalino. Tive ainda que aguentar a mascarada leather, mais o ambiente depressivo, em que até parece que todos querem morrer o mais rapidamente possível, matando igualmente e ao mesmo tempo, toda e qualquer hipótese de ressurreição. Para cultivar a minha parte negra e depressiva, prefiro submergir-me nas peças de Joseph Beuys ou de Kiefer, porque sei que haverá sempre um Rothko para contemplar. Um desfile da Prada também serve!

O que gosto no clubbing, é sentir que tudo aquilo é um filme, que tanto pode ser negro como cor-de-rosa, e que eu estou lá dentro, mas o Snax no Berghain, assemelhou-se mais a uma peça de teatro, com excelente cenografia e excelente banda sonora. O pior foi os péssimos actores, envergados em patéticos figurinos.

Se um dia voltar ao Berghain, será com toda a certeza num sábado normal.

A foto lá de cima não é minha, foi conseguida via DJ Mag. Claro que no Berghain, as câmaras estão proibidas. As fotos seguintes, são para limpar as memórias olfactivas.


Anselm KIEFER - Twilight of the West (Abendland)


Joseph Beuys - Badewanne


Mark Rothko - Red on Maroon 1959 (Seagram Murals)

3 comentários:

Lindinalva Zborowska disse...

Lieber portuguisich junger-man. Der beste Club der Welt is Stereo in Montreal. PERIOD!! Stereo has a perfekt cristal-clear-sound-system and is the perfect place to party!!
Berlin é babado, já morei lá, porém segue as regras da arquitetura da destruição e qualquer lugar pra dar certo tem que ser caindo aos pedaços. Tem seu charme... porém vc tem que seprguntar se as pessoas foram procurar ovos no meio das pernas dos cafuçús e deixaram seu chocolate no rabo deles, ou se elas vão lá pra ouvir música. Um beijo e me ligue (30) 472.8586 - LindiDominatrix a seu dispor. SMACK!!

Jack disse...

Eu acabei desistindo de ir por causa da obrigação do fetiche -- também tenho preguicinha. Mas não deixe de voltar, é um lugar legal, sim. E vá também à Watergate, que não é gay mas é bem legal.

Thiago Lasco disse...

Faço coro com o Jack - que, se bobear, é leitor do meu blog ;)