terça-feira, 24 de março de 2009

Serie Fuori Serie



Já aberta ao público a segunda reedição/interpretação do Design Museum da Triennale de Milão.

Do conceito do museu, faz parte a mudança regular das peças expostas e a organização do espaço expositivo, de forma a propor novas leituras e interpretações do acervo do museu.

Esta nova edição, intitulada” Serie Fuori Serie”, ilustra como na paisagem daquilo que é o hoje o design italiano, se chega da pesquisa experimental ao mercado de massas.

Se na edição anterior, uma das grandes questões levantadas foi a génese do design italiano na cultura popular e uma certa forma de saber fazer artesanal, enquanto catalisador da produção industrial (em série), esta nova edição, coloca a ênfase na relação entre a investigação, a experimentação, os materiais (velhos e antigos) e as formas (novas) de produção.

A experimentação e a investigação desenvolvida pelos designers (e não só) são a energia capaz de despoletar o desenvolvimento de novas formas de produção. Por sua vez, são igualmente as novas tecnologias e os novos processos de fabrico, que fornecem aos designers novas formas de pensar o objecto e é da interacção dinâmica entre o trabalho do designer e a industria, hoje não apenas industrial mas tecnológica, que nasce o novo objecto.

Quando pensamos em design italiano, pensamos automaticamente em designers italianos, o que não corresponde totalmente à verdade. Ao falarmos de design italiano, não falamos da nacionalidade dos designers que assinam os objectos, mas falamos da dinâmica que se estabelece entre o designer e a organização de todo um sistema produtivo e que é capaz de transformar um protótipo num objecto de uso, seja este (re)produzido 100 vezes seja este (re)produzido 100.000 vezes.

Mesmo nesta época de deslocalizações, um sistema produtivo ainda é mais que a soma das suas máquinas e dos seus processos de trabalho. Sem todos os outros elementos que caracterizam um sistema de produção, entre os quais os humanos e os culturais, não é possível inovar, ou por outras palavras, “criar um objecto melhor”.

Ainda me apetecia discorrer acerca das noções de “planeamento” e “concepção” e como casos de sucesso, nunca resultaram da sua separação, mas isto ficará para uma outra altura, ficando a provocação que a metáfora de uma aranha (ou de um espremedor do Starck), em que existe uma núcleo centralizador pensante e tentáculos que executam, recebendo directivas através de um canal de comunicação unidireccional e que ainda hoje caracteriza grande parte da estrutura organizacional de muitas empresas, nunca deu à luz, nem grandes objectos nem grandes feitos. Vem-me à memória as palavras de um trabalhador da Flos com mais de 30 nos de casa “ não houve um único projecto em que não tivesse visto o senhor Castiglioni na fábrica ao lado dos operários”.

Talvez por isto ainda hoje exista mesmo design italiano. Sem a estrutura leve das pequenas industrias, que caracterizam o tecido industrial do norte de Itália, sem a sua flexibilidade e a sua constante aposta na inovação na investigação e na experimentação, nem más (re)produções Made in China teríamos.

A exposição está dividida nas áreas temáticas de leitura: Grandes Séries, Pequena Séries, Experimentação e Fora de Série e a montagem é do Antonio Citterio e Associados e pronto é uma exposição absolutamente fora de série.

4 comentários:

Luis Royal disse...

está a ver se nos irrita? ;)

poor guy fashion victim disse...

Porque haveria de o irritar? Por ter mencionado aquela coisa do Starck enquanto metáfora? ;)

Acredite que não, foi apenas uma brincadeira de conceitos, e se existe algum culpado é o Mintzberg (http://www.henrymintzberg.com) ao ter atribuído no já clássico livro Strategy Safary, o animal “aranha” à categoria do planeamento estratégico “Escola do Design” (para Mintzberg esta cetegoria pertence ao tipo de planeamento estratégico que separa a concepção da execução). Ou então o culpado é o Starck, que se limitou a desenhar uma aranha.

Mas nada contra o Starck, alias até acredito que o resultado final de toda a série “Ghost”, não teria sido possível se a Kartell tivesse um planeamento estratégico tipo “escola do design”, tal qual como Mintzberg o define.

Arranje um tempinho para dar um salto à Trienalle se for ao salone que vale a pena.

Luis Royal disse...

lol
era tão simples como: não teremos tempo de ir a milão este ano outra vez. daí a irritação.
sobre o starck não discuto mais consigo!

poor guy fashion victim disse...

esta edição ficará pelo menos 12 meses ;)

Abraço