
A Maison Martin Margiela, comemora este ano o seu 20º aniversário e, a primeira colecção masculina foi lançada há 10 anos.

Depois de todas as revistas lhe terem dedicado honras e, por toda a parte se falar da Maison Martin Margiela, decidi ir recuperar à gaveta dos posts guardados e não publicados, algumas linhas que já tinha escrito acerca do Monsieur Martin Margiela.


Desde a sua primeira colecção em 1988 que Martin Margiela é um dos designers de moda mais interessantes e talvez seja no momento um dos mais influentes, o que é só por si de uma ironia deliciosa.
Críptico, formal, sistemático, sincrético, racional, cerebral, pragmático, crítico, irónico, pessimista, minimal, anti-moda, grunge, desconstrutivista, ...são adjectivos que já foram usados para classificar o seu trabalho. Eu prefiro apenas o de genial.

Martin Margiela formou-se em 1980 na Royal Academy of Fine Arts e é conhecido como um dos do grupo de Antuérpia do qual também fazem parte Ann Demeulemeester, Dries Van Noten, Dirk Bikkembergs.
Desde o seu primeiro desfile, que Martin Margiela, tem efectuado uma reflexão acerca da moda, do sistema de moda, e dos usos que as pessoas fazem da roupa e da moda, conseguindo aliar, quer um discurso poético acerca da história pessoal, que cada individuo tem com as peças de roupa que usa, quer um discurso critico reflexivo acerca do sistema de moda enquanto tal.
O seu trabalho, mais que moda é uma meta-moda ou seja, uma reflexão em torno da moda, da roupa que usamos e da forma como a usamos.
Igualmente Margiela cultivou desde o início, o anti vedetismo, associado aos designers de moda. Nunca apareceu em público, nunca se deixou fotografar e dá todas as entrevistas por fax ou e-mail. Ainda hoje não sabemos quem é Martin Margiela e jamais uma foto sua foi publicada.
Foi um dos primeiros designers a fazer desfiles não convencionais, em que os manequins eram os seus clientes e não manequins profissionais, em que o desfile começava do princípio para o fim ( O Marc Jacobs fez o mesmo recentemente mais de 10 anos depois), em que o desfile acontecia num local não habitual, em que o desfile foi transmitido em directo pela Internet (A Dolce&Gabbana igualmente dez anos depois tornou a fazê-lo).
Talvez um dos seus primeiros desfiles mais marcantes e que mais baralhou a impressa de moda, foi o que aconteceu num espaço vizinho a uma lixeira, iniciando-se com as modelos vestidas de branco, a distribuírem bebidas à assistência em copos de plástico.
Igualmente mítico foi o desfile em que as modelos com as míticas botas em forma de pata de vaca (passados mais de 10 anos a Nike vez uma versão sapato nelas inspirada), passavam no início da passerelle por um espaço que tinha tinta vermelha e depois à medida que desfilavam “carimbavam” as pegadas em T. shirts que forravam o chão. O tecido foi posteriormente reciclado e com ele feitas T. Shirts.
Outra das suas peças geniais, e que continua a ser produzida há mais de 10 anos, conseguindo ainda hoje ser influência e tendência é a famosa V neck cuja receita reverte a favor das organizações que se dedicam à luta contra a SIDA.


Cada linha da Maison Martin Margiela é classificada com um número








Na linha Garde-robe pour homme, existem ainda as peças replica, que não são nada mais que réplicas exactas de peças de diferentes proveniências e épocas.



No 20º aniversário de existência e no 10º de colecções masculinas, a Maison Martin Margiela cria uma nova linha masculina, a Sartoriale, composta por 3 casacos, quatro fatos de duas peças e cinco camisas, confeccionados segundo as técnicas tradicionais de alfaiataria, novas peças de culto a adicionar ao universo Maison Martin Margiela.
Ao longo dos seus 20 anos de existência a Maison Martin Margiela, nunca fez um desfile de moda masculino, apenas apresenta em plano estático, um conjunto de modelos com a roupa vestida, sendo os jornalistas convidados a fazerem uma interpretação pessoal do que viram.
Na maior parte das vezes os modelos têm uma faixa sobre os olhos, como sinal crítico da despersonalização, e anulação do modelo enquanto pessoa que o sistema de moda impõe.
Algumas fotos de diferentes colecções e linhas.





A juntar ao C.V. do senhor Margiela, está ainda a sua passagem como Director Criativo pela Hermés entre 1997 e 2003 de onde se afastou por vontade própria, para poder dedicar mais tempo ao seu trabalho pessoal. Mais uma vez e de forma irónica, quem o substituiu foi Jean Paul Gaultier (Margiela foi no início da sua carreira assistente do Gaultier), o mesmo Gaultier que afirmou publicamente, que após ter visto a primeira colecção que Margiella desenhou para a Hermés, achou-a de tal forma perfeita, que pensou ser impossível alguém um dia conseguir fazer melhor.
Até hoje, as suas colecções continuam tão pouco dentro do sistema de moda em que as colecções são sucessivamente apresentadas, consumidas e esquecidas, como a sua primeira colecção, mas é hoje muito mais claro, que Margiela nunca foi antimoda, palavra muitas vezes usada nos idos anos 90 para redutoramente classificar o seu trabalho.
Martin Margiela, para além de ser um dos designers de moda que melhor tem conseguindo desenvolver uma linguagem coerente ao longo do tempo, é ainda quem em cada colecção, melhor utiliza uma linguagem ou meta linguagem em torno da moda.
Olhamos para o trabalho do Kris Van Ashe, do David Slimane e até do Marc Jacobs, por mais incrível que possa parecer à primeira vista, para percebermos que provavelmente os seus trabalhos não existiriam, se antes não tivesse havido alguém chamado Martin Margiela

Ainda dentro das comemoração do 20º aniversário, mo MoMu de Antuérpia, de 12 de Setembro a 08 de Fevereiro a exposição Maison Martin Margiela 20 The exhibition.
Joyeux anniversaire Maison Martin Margiela
Fotos: Maison Martin Margiela via Maison Martin Margiela
2 comentários:
Óptimo artigo acerca do Margiela. Vê-se que conhece bem o trabalho dele.
Nos anos 80, havia um jornal em Portugal para onde escrevia um tal de Paulo Gomes, como crítico de moda. Lembro-me desse tal Paulo Gomes escrever algo muito negativo acerca do Margiela.
Que vontade de rir tenho, o senhor Paulo Gomes, continua a ser uma das principais cabeças que contribui para a GRANDE MERDA, tirei grandessissima merda que é uma coisa que se julga moda e que dá pelo nome da moda Lisboa.
O Martin Margiela hoje, faz 20 anos de carreira, e tem lojas em todas as principais cidades da Europa.
Parabéns Martin Margiela
bravo!
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