quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Come Back to Reality - O Direito à Existência
Estas são as fotografias, das diferentes figuras públicas portuguesas, homossexuais, que cansad@s de serem enrrustid@s, fizeram o seu coming out.
Fartos de viverem uma vida dupla junto dos meios de comunicação social, vieram a público e assumiram a sua orientação sexual.
Como poderão constatar, do grupo fazem parte actores e actrizes, politic@s, empresári@s, jornalist@s, comentador@s politícos, e muitas outras áreas profissionais da sociedade portuguesa.
Todos eles têm no entanto algo em comum, são homossexuais e tiveram a coragem de dizer “basta, sou homossexual e, se a orientação sexual dos heterossexuais é pública, porque faz parte da sua identidade enquanto pessoas e figuras públicas, porque raio a minha tem que ser escondida e privada?”.
A todos eles os parabéns, pela coragem que demonstram ter, mas parabéns sobretudo, pela honestidade e respeito que mostraram ter para consigo mesmos.
No acidente do Md-82 no aeropoto de Barajas que vitimou 153 pessoas no passado dia 20, morreu Domenico Riso, um italiano do sul de Itália, de 41 anos, que trabalhava para a Air france como Assistente de Bordo.
Até aqui nada de especial, não fosse Domenico Riso o único Italiano no fatídico voo, não tivesse também morrido no mesmo voo um outro passageiro de nome Pierrick e o seu filho de três anos e não constituissem estas três pessoas um núcleo familiar estável há três anos e não tivesse toda a imprensa italiana, com muito honrossa excpeção para o Corriere de la Sera, ignorado que Domenico era homossexual, que Domenico tinha um companheiro do sexo masculino, Pierrick, e que ambos viviam há três anos com o filho deste em Paris, como qualquer outra família.
Os meios de comunicação social italiana, que apresentaram em parangonas a morte do seu cidadão, ignoraram em completo, que conjuntamente com Domenico, morreram também os elementos centrais da sua família.
A polémica rebentou em Itália, com alguma esquerda, direi verdadeira esquerda, a gritar o que é impossível ignorar: Domenico Riso era homossexual, Domenico Riso tinha um companheiro e uma família que com ele morreu no acidente do Md-82. Não falar disto é homofobia, por sinal uma das mais violentas formas de homofobia, porque nela reside a negação do simples direito à existência.
A direita, nos seus habituais e inteligentissimos argumentos, referiu que a orientação sexual de Domenico Riso, apenas dizia respeito à sua vida privada e que por isso mesmo, não deveria ter sido abordada publicamente. E que homofobia, foi escarrapachar nos jornais, como fez o Corriere de la Sera, a homossexualidade de Domenico e o seu tipo de família, pormenores íntimos que apenas à sua esfera privada dizem respeito.
Gostaria de saber, se no acidente do Md-82 no aeropoto de Barajas, entre as 153 vitímas mortais, se encontrasse um casal heterossexual italiano, a impressa italiana teria ignorado o facto daquelas duas pessoas constituirem um casal, uma família. Gostaria de saber, se Domenico fosse heterossexual e vivesse há três anos com uma mulher e o filho desta, a imprensa italiana não se teria referido ao facto e não lhes tivesse atribuído o ESTATUTO de FAMÍLIA.
Nem é precisso perguntar para saber a resposta, fosse a imprenssa italiana ou fosse que imprensa fosse, a questão nem se colocaria, como não se colocou para referir os graus de parentesco das outras vitímas que pereceram no acidente do Md-82 no aeropoto de Barajas.
A forma mais primária de homofobia, é negar a existência da homossexualidade e, tudo o que não existe, simplesmente não existe e por isso a questão de discutir se existem ou não direitos, se existe ou não discriminação, nem se coloca, porque simplesmente, estamos a falar dos direitos de um grupo de pessoas, às quais negamos, primeiro que tudo e antes de qualquer um outro direito, o direito à existência.
Os modernos inquisidores, que agora temem ser apelidados de homofóbicos, arranjaram agora uma outra forma (na verdade não é nada nova) de não reconhecer os direitos dos homossexuais, e que é dizer que a homossexualidade pertence à esfera privada do indíviduo, como se a heterossexualidade também pertencesse à esfera privada do individuo.
Deixei-me rir, dá vontade de rir.
Vamos fazer um exercício de pensamento, experimentem colocar a hipótese da heterossexualidade, pertencer à esfera privada do indíviduo e por isso mesmo, agindo em consonância, acabar ou ignorar socialmente, tudo o que tem a ver com a heterossexualidade:
Vá lá podemos começar a fazer a lista e à cabeça vem logo o casamento, o casamento no papel, isso mesmo, porque se a homossexualidade é da esfera privada, então a heterossexualidade também o é e por isso vamos já acabar, social e publicamente, com o casamento heterossexual. Que sentido faz um homem e uma mulher tornarem legal e pública a relação que os une, já que esta pertence à sua esfera privada?
Estando abolido o casamento, temos que fazer desaparecer de todos os papéis legais e públicos o “estado civil”. Sim exactamente, isso mesmo, e a seguir acabamos também com as festas de natal de empresa, em que são convidadas as famílias dos seus empregados e a seguir as normas de apresentação social mais vulgares, tais como “apresento-lhe o meu marido”, o que passará obviamente a ser proibído ou pelo menos considerado inadequado socialmente, porque se alguém é ou não marido ou mulher de alguém, companheiro ou companheira de alguém, namorado ou namorada seja de quem for, este facto pertence exclusivamente à esfera privada do indivíduo e como tal, não tem qualquer relevãncia social, devendo mesmo ser ignorado. E podemos continuar, a lista de situações sociais a mudar é de tal forma imensa, que chegaremos à conclusão, que simplesmente, teríamos que construir de raiz e com a ajuda de muitos sistemas de informação que nos ajudassem a gerir projecto de tal envergadura uma nova sociedade.
É ridículo não é? Tão ridículo quanto pensar que a homosexualidade é algo da vida privada do individuo e que por isso deva ser mantido em segredo, ou pelo menos não mencionado ou visível socialmente.
A orientação sexual de um indivíduo, seja ela qual for, faz parte integrante do indíviduo, faz parte da identidade do indivíduo e é por isso um elemento fundamental e estruturante, na relação que ele estabelece consigo mesmo e com os outros. Negar-lhe isso é negar-lhe o direito de existir sequer.
E o que é que a primeira parte deste post, tem a ver com o que acabo de dizer?
Houve alguém que não tenha percebido a relação?
Paciência, estou sem paciência para explicar tudo outra vez, deve ser do mau humor das férias terem terminado. Lamento! Por si!
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2 comentários:
Ena, que forte!!!!
Jorge
bravo!
não é que concordemos a 100% ou queiramos envergar o estandarte. mas sendo preciso estamos aqui para ajudar.
obrigado.
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