quarta-feira, 18 de junho de 2008

Pride na Marcha de Lisboa

Na noite de 28 de Junho de 1969 em New York a policia efectuou uma vez mais uma rusga ao bar gay Stonewall Inn, situado em pleno Greenwich Village.

Naquele dia, face ás agressões habituais da polícia, umas quantas detenções e o fecho do bar, uma mulher resistiu à detenção e as cerca de 200 pessoas que esperavam na rua à porta do bar, que já tinha sido esvaziado pela policia, responderam à violência dos policias, atirando garrafas, pedras e outros objectos. Às cerca de 200 pessoas outras tantas se juntaram, obrigando os policias a barricarem-se no interior do bar.

Na noite seguinte, o Stonewall Inn reabriu as suas portas e houve mais manifestações em Christopher Street. Estas foram algumas das primeiras MANIFESTAÇÕES DE DESOBEDIÊNCIA CIVIL, contra a discriminação dos homossexuais, não foram as primeiras, mas ficaram como símbolo de resistência dos homossexuais, face á discriminação, face à violência, que as autoridades e a sociedade em geral, durante séculos e séculos infligiram (e continuam ainda hoje a infligir) contra os homossexuais.

Hoje, se nós os gays já podemos entrar numa festa ou num bar, sem correr o risco de sermos espancados pela policia, detidos e insultados verbalmente, a este e outros Stonewall se deve.

Se hoje é possível realizar Gay Prides de New york a São Paulo, de Madrid a Lisboa, é porque houve homens e mulheres, que um dia resolveram dizer: ”Basta! Não haverá ninguém que me discrimine” e para isso foi preciso uma coisa: CORAGEM! Coragem para exigirem para si os direitos que lhe são negados, CORAGEM para darem a cara. Foi assim, ainda é assim e todos os outros direitos que se vierem a conquistar, por isto serão.

Em Espanha, neste país mesmo aqui ao lado, existe verdadeira igualdade democrática, relativamente ao casamento civil para todos os seus cidadãos, porque em Espanha, existe um governo democrático e democracia é isso mesmo, assegurar que todos os cidadãos tenham os mesmos direitos.

A Pride em Madrid reúne uns quantos milhares de pessoas, entre as quais bastantes portugueses, entre os quais este aqui que vos escreve, e que vão festejar, que vão fazer a festa, que vão BENEFICIAR e USUFRUIR da liberdade e da dignidade, conseguida graças ao trabalho de muitos homens e mulheres, que á semelhança de Stonewall, um dia tiveram a coragem de dar a cara e dizer basta!

Em Portugal, o governo é igualmente um governo democrático, mas em Portugal, os homossexuais ainda não têm nem pouco mais ou menos, os mesmos direitos que os heterossexuais.

Em Portugal, ainda hoje, 39 anos após Stonewall, todos os dias nas escolas crianças homossexuais são discriminadas por outras crianças (a injúria homofóbica é agressão pura e simples), porque a cultura heterossexista é altamente discriminatória para os homossexuais e a escola, a quem cabe o papel na educação para a diversidade, nada faz para contrariar isso.

Em Portugal, ainda hoje, 39 anos depois de Stonewall, todos os dias pais e mães, mancham a palavra "pai" e "mãe" e mancham o sentido do que é amar e discriminam os seus filhos homossexuais.

Em Portugal, ainda hoje, 39 anos depois de Stonewall, todos os dias entidades patronais, contrariando todos os princípios legais, discriminam os seus empregados das mais variadas formas

Hoje em Portugal, 39 anos depois de Stonewall, ainda não existe uma politica de luta contra a homofobia para as entidades públicas, jurídicas, policiais, …

Em Portugal, ainda hoje, 39 anos depois de Stonewall, se eu quiser casar-me com quem quero casar, não posso, porque a lei do casamento civil no meu país, por sinal inconstitucional, não mo permite.

A Gay Pride de Lisboa ou a marcha, como lhe quiserem chamar, ao longo dos anos em que se tem realizado (é o 9º ano) pouco mais de 200 pessoas tem conseguido juntar. Isso mesmo 200 pessoas. Anos há, em que encontro mais portugueses na Pride de Madrid, que na de Lisboa.

Há uns anos atrás, resolvi dar uma festa em minha casa, um jantar, após a Gay Pride. Enchi a casa de flores, velas e boa comidinha. O convite era explícito, o encontro seria no início da marcha, e no final seguiríamos todos para minha casa. Os meus amigos hetero apareceram todos com os filhos e os companheiros(a)s e ex companheiro(a)s. Os meus amigos gay, não apareceu nenhum!... Claro que apareceram depois mais tarde no jantar!!!

Este ano no gym e por alguns outros locais de Lisboa, supostamente “cosmopolitas”, perguntei a uns tantos gays que conheço: "Vais á marcha?" A resposta tem sido invariavelmente: “credo, tás maluco?”.

As pessoas a quem fiz a pergunta, são supostamente cultas, viajadas, cosmopolitas e modernas e claro Gay. Encontro-as em Madrid e um pouco por toda a Europa, usam GUCCI e Dolce &Gabbana, lêem imprensa estrangeira e estão sempre actualizados, apenas lhes falta uma coisa, CORAGEM ou por outras palavras, TOMATES para darem a cara. Atenção, algumas destas pessoas são meus amigos e são excelentes pessoas com qualidades maravilhosas, o que não me impede de reconhecer, que a coragem e tomates para darem a cara, são aspectos em que muito têm ainda que melhorar e evoluir.

É pena que o sentido de modernidade de certas pessoas, se esgote numa ida à Bica do Sapato com uns sapatos Louis Vuitton calçados. E é pena, porque acredito verdadeiramente e muitos já mo provaram, que enquanto pessoas, são muito mais que isso.

Bom, num próximo post, irei tentar empatizar com estas pessoas e elencar as razões que normalmente apresentam para não irem á marcha de Lisboa e irei para cada um desses argumentos, tentar contra argumentar. Entretanto e até lá, caso tenha argumentos, para não ir á marcha, ou melhor caso não vá à marcha, por favor usando a opção de comentar aqui do blog, faça-me chegar as suas razões, as razões pelas quais não vai por os pés na marcha de Lisboa. A inserção dos comentários no anónimo funciona muito bem ;)É mesmo anónima e não precisa de dar a cara, muito menos sair do armário.

Tome nota, a Marcha ou Parada Gay em Lisboa, como lhe queiram chamar, é já no 28 de Junho e começa às 16:00 horas no Principe Real, terminando no Terreiro do Paço.

Até ao dia da Marcha, além do post acerca das razões e contra razões para ir á Marcha de lisboa, fica também prometido um outro post acerca do armariamento em Portugal: Armariamento dos actores que toda a gente que sabe que são gays e que só eles é que julgam que não são e por isso continuam a representar que são gajos muito hetero; armariamento dos politícos que são gay e que ainda por cima são homofóbicos; Armariamento dos empresários da noite que cresceram á custa dos gay, que são gay e que agora querem todo o tipo de pessoas nos seus espaços menos os gay; Armariamento em geral dos gay em Portugal, porque em Portugal, mesmo com sol, mesmo com bom clima, está quase toda a gente dentro do armário. Todos quase a sufocar, com falta de luz e ar, mas dentro do armário!

5 comentários:

Anónimo disse...

Lisboa, infelizmente é uma cidade muito pequena, eu diria uma aldeia, e as noticias boas ou más correm rápido, por isso as pessoas de bem ou não, não querem se expor......, mas percebo-as perfeitamente ou estás esquecido do incidente do PNR?

LS

Anónimo disse...

Bem argumentado mas não concordo totalmente!

É de facto vergonhoso qualquer tipo preconceito e discriminação.

O que não concordo:

Estás muito focalizado na LUTA e esqueces-te que a maior parte das pessoas que se juntam à FESTA de Madrid (muitos gays e muitos straights) o fazem pela qualidade da FESTA, para se divertirem muito, não tanto pelos motivos da LUTA e muitos nem sequer assistem ao "cortejo" nem sabem o que se reenvindica.

Até à data nunca assisti ao Gay Pride de Lisboa porque nunca calhou, mas pelas opiniões que tenho ouvido deixa MUITO a desejar.
Hei-de ter a minha opinião!

Já pensaste que a razão pela qual os teus amigos gays (há uns anos atrás) não apareceram na festa de rua pode dever-se à falta de pachorra semelhante à de assistir às marchas de Sto António?!
Foram à tua festa?! É porque essa não quiseram perder! :))

Já pensaste que alguns desses teus amigos, cultos e viajados, provavelmente também muito exigentes, podem não querer fazer parte de um protesto que, segundo a opinião de alguns que já estiveram presentes, mais parece um desfile de transformistas (com todo o respeito que estes merecem), e querer manter a sua dignidade e não usar um rótulo.

Ressalvo o respeito àqueles que trabalham para que seja possível realizar-se o Gay Pride de Lisboa mas entende que nem toda a gente pensa em uníssono nem anda em carneirada por andar.

Liberdade é ter opção de escolha e não fazer fretes!

Falta de coragem para dar a cara é do que acusas aqueles que têm algo mais interessante para fazer do que andar de cartazes em punho, como se a preferência sexual fosse um dos elementos a constar do curriculum vitae ou do cartão do cidadão?!

Ir ao Gay Pride de Lisboa NÃO é condição para ser Gay ou Gay friendly e toda a gente tem o direito de ser discreto sem que isso signifique ser cobarde.

Liberta-te e descontrai meu amigo...

Anónimo disse...

Sou gay, não gosto da palavra homossexual, mas não tenho nencessidade de me ir pavonear com plumas e lantejoulas para as ruas aos gritinhos que sou gay. A minha escolha sexual é uma escolha de que apenas de mim depende e com a qual os outros nada têm a ver com isso. Aliás, os festival que são os arraiais gay, só servem para dar máu nome aos gays e denegrir a causa gay, como se fossemos todos gajos efeminados cheios de plumas ao gritinhos

Anónimo disse...

Vamos por partes:

# Ser-se gay é assumir, em primeiro lugar, para si mesmo o facto - parece fácil mas muitos gays não se assumem como tal e representam a vida toda: para si, para os que o rodeiam na generalidade. Das consequências disso, todos sabemos quais são.

# Ser-se Gay não significa andar de letreiro ao peito a publicitar o facto - cada um é o que é e isso não determina que tenha de dizer o que for seja a quem for porque nada se tem que provar a ninguém. Pensar-se o contrário é assumir uma condição de inferioridade o que, logicamente, não é verdade;

# Este continua a ser um país pequenino no pior que poderia haver - nas mentes, nas atitudes das gentes. Das gentes pequeninas. É um país de hipócritas onde reina a máxima de «públicas virtudes, vícios privados». Se eu digo que ninguém tem que 'publicitar' seja o que for, a verdade é que é intolerável a atitude de quem publicamente renega os seus semelhantes e, pior que isso, se junta ao coro dos homofóbicos;

# Ser-se Gay é ser-se Pessoa e em tudo igual às demais - com os mesmos direitos e com as mesmas deveres. Um Estado que discrimina os seus cidadãos é um Estado que divide esses mesmos cidadãos em categorias: os de 1ª e os de 2ª categoria. Os que têm direitos e os que não têm, sendo que todos têm os mesmos deveres. Martin Luther King disse um dia «I Have a Dream» e falava acerca da sua 'minoria' - ainda hoje para os homossexuais o sonho não se cumpriu;

# 28 de Junho não significa automaticamente festa, ou fiesta, significa bem mais que isso: a luta por uma causa, a causa da igualdade - são exactamente as diferenças entre todos que nos torna a todos iguais. A data recorda a discriminação, a data recorda-nos a cada ano que quase volvidos 40 anos sobre o 28 de Junho de 1969 pouco mudou - pouco mudou neste país, pouco mudou na maioria dos países;

# A Marcha de Lisboa é o retrato do país, um retrato a preto e branco. Ninguém é obrigado a ir mas muita gente não vai por medo do 'rótulo', a verdade é que se sabe que se é olhado qual 'aberração da natureza'. É o retrato deste país, repito;

# A Marcha de Lisboa será uma Parada quando no resto do ano se lutar pela causa da igualdade. A Marcha de Lisboa será então uma festa com razões para ser festa. E com pessoas que façam a festa!

Jorge

Anónimo disse...

Não é por ser gay que deva ir pavonear pelo meio de Lisboa. Não haja dúvida, Portugal ainda é retrogado, mas marchar não vai servir de nada... Pelo contrário, apenas alimenta o estériotipo que todos os gays andam aos saltinhos pelas ruas e "gritam que nem umas doidas" coma sua roupinha da moda.

Protestar, tudo bem, o povo lusitano fá-lo bem, mas se o vamos fazer, que seja a sério, queixemo-nos ao governo, criemos partidos, novas leis que respeitem aquilo que é nossso à nascença, o direito de ser livre...