Já na colecção deste Inverno (2008), fiquei impressionado, com a forma como ela explorou a vulnerabilidade masculina, como ela graficamente e através das roupas, colocou em evidência, o quanto vulneráveis os homens são, o quanto a vulnerabilidade faz parte da masculinidade, por mais que a queiramos esconder.
Ao contrário da maior parte dos designers, que pegam e agarram naquilo que nós desejamos ser, e por isso mostrar aos outros a imagem que gostaríamos de ter, Miucia Prada, agarra precisamente naquilo que nós queremos esconder, e é a partir daí que desenvolve o seu trabalho.
Algures numa entrevista dela (não a consigo localizar), Miucia diz qualquer coisa como isto: O que é aceite por toda a gente como bonito não me interessa minimamente, é muito mais interessante trabalhar o feio, ou o que não é considerado bonito. Estou a citar livremente e de memória, mas a ideia é esta. Facilmente conseguimos identificar no seu trabalho, exercícios de redefinição dos nossos conceitos arreigados, acerca do que julgamos ser belo, bonito, sexy.
Olhar o outro lado da moeda, olhar de uma perspectiva diferente da maioria e aliar tudo isto a uma excelente estratégia comercial, não é algo apenas bem feito, é algo simplesmente genial.
Na colecção Inverno 2009, Miucia Prada mostrou despudoramente um homem que também é feminino, um homem que quer queira quer não, tem uma parte feminina. Algumas das peças são do mais clássico e masculino que existe: calças, casacos, camisas, duplos colarinhos, que ora vão surgindo com elementos do vestuário feminino acoplados, ora surgem como capa que esconde esses elementos.
Para além da dualidade masculino/feminino, a vulnerabilidade, ou melhor o terror que nós sentimos em mostrar a nossa vulnerabilidade também lá está. Algumas das peças podem ser pela sua forma coletes à prova de bala, mas alguns destes coletes adquirem formas femininas. Algumas das peças podem ser uns jocks straps masculinos, mas também podem ser um bikini. É em redor deste conceito de dualidades, mas também de indefinições, que Miucia Prada desenvolve esta colecção, mostrando-nos que afinal o preto e o branco, apenas existem enquanto monocromatismo na nossa cabeça, porque há sempre muito mais cores do outro lado do espelho. Basta apenas dar a volta, abrir bem os olhos e ir lá vê-las.
Num texto a não perder, Tim Blanks na Man Style, diz que esta colecção poderia ser “Beau du Jour», em alusão ao filme “Belle de Jour” o mitíco filme de Luís Bunuell com uma Catherine Deneuve vestida por Yves Saint Laurent, pertencente à típica burguesia e que em segredo prostitui-se por prazer, resumido assim a essência desta colecção.
Interessante ainda, é comparar enquanto exercício de reflexão, a forma como os irmãos Dean e Dan da Dsquared, exploram e utilizam os fetiches da masculinidade e como a Prada nesta colecção os aborda.
Abordagens e tratamentos totalmente diferentes, resultados igualmente brilhantes. Eles do lado do espelho que nos devolve as imagens que queremos e sonhamos ver, a Miucia Prada do outro lado do espelho, como a Alice, a do País das Maravilhas.
A fotos que seleccionei são todas do Márcio Madeira e merecem ser vistas todas na Men Style, ficando-se desta forma com uma visão muito mais completa. Se alguém descobrir por aí o vídeo do desfile, por favor partilhe-o ;)


Aqui estão alguns minutos dos desfile, enviados pelo André.
2 comentários:
aqui está 1:39 da nova colecção...
http://www.youtube.com/watch?v=ZiceLyndhqc
compreendo a tua abordagem, mas nâo acho que alguma destas roupas sejam minimamente vestiveis
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