sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Cidades

Há cidades que amamos, cidades que odiamos, cidades que amamos e passamos a odiar, cidades às quais somos indiferentes, cidades feias mas onde nos sentimos bem, cidades bonitas que nos causam ansiedade, cidades arrumadas, cidades desarrumadas, cidades velhas, cidades novas, cidades ordenadas, cidades caóticas e depois, há a nossa ou as nossas cidades.

A nossa cidade está para o Homem de hoje, como o casamento esteve em quase toda a história da humanidade. Até ao século. XIX, as pessoas não casavam com quem queriam, mas com quem a família mandava, mandato esse, que dependia da categoria social. Havia algumas excepções, mas estas foram até há bem pouco tempo, a excepção e não a regra.

Ainda hoje, mesmo neste mundo globalizado, a maioria dos Homens não casa (vive) com a cidade que ama, mas com a cidade que é possível casar. A maioria resigna-se e aprende a viver com ela, mesmo que a odeie. Na maior parte dos casos, a dicotomia amor/ódio nem se coloca, porque o hábito e a resignação, ou corroeram prematuramente qualquer pensamento ou, mais positivamente, ensinaram que o amor por uma cidade, tal como para a maioria das coisas, vai-se construindo e não aparece da geração espontânea dos sentimentos.

Há ainda quem se divorcie litigiosamente da sua cidade e fique para sempre, até ao resto da vida, com aquele ar de refugiado zangado, outros ainda simplesmente separam-se civilizadamente, indo cada um à sua vida e outros ainda apaixonam-se perdidamente e correm atrás dessa paixão com as malas da roupa e demais tarecos.

Acho que ao longo da minha vida já me apaixonei por várias cidades, já me zanguei com tantas outras, já tive sexo com centenas, e no fundo no fundo, cada vez amo mais a(s) minha(s) cidades(s). Sim as minhas!!deixem-me confessar-vos que em matéria de cidades, não sou monógamo, não tenho uma relação aberta com várias, mas temos uma relação estável em trio, eu e as minhas cidades. Às vezes zangamo-nos e rabujamos uns com os outros, mas cada vez mais, sinto-as, a ambas, como o meu porto seguro, o local onde regresso, depois de muito galderiar.

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